sábado, 26 de junho de 2010

Maria Vuvuzela

twitter.com@athosronaldo

A Copa do Mundo mexe com nossos sentimentos. A rotina dos brasileiros se transforma nesse período, o país veste verde e amarelo e o coração bate mais forte. O assunto é a bola, chuteira e os complicados esquemas de jogo dissecados exaustivamente por entendidos e não entendidos em futebol.
Na Copa da África do Sul, o penteado da moçada e as camisetas “baby look” dos africanos também fizeram parte dos comentários femininos. Um reles confronto entre Coréia do Sul e Grécia proporciona acalorados debates e minuciosas análises nos programas esportivos no cair da tarde noite adentro.
Durante a execução do hino nacional sentimos uma enorme emoção. As lágrimas mostram nosso sentimento pátrio, principalmente, na parte que diz “sirvam nossas façanhas”. Opa!!
Vou refazer a frase. Não quero passar como reacionário do sul do Brasil e adepto do estilo Dunga de beira do campo. Então, as lágrimas mostram nosso mais profundo sentimento pátrio, principalmente, na parte que diz “conseguimos conquistar com o braço forte”. Vibramos pelo Cacau da mesma forma que vibramos pelo Kaká, pouco importa se um deles é um “ex-brasileiro”.
O envolvimento com a Copa vai além do que supomos imaginar e pode se refletir na vida de uma pessoa. Uma conhecida amiga, ostentando a gravidez de nove meses, estava em dúvida sobre a escolha do nome da menininha que estava por chegar. Janaina Jabulani, Maria Vuvuzela, ou Bafana Beatriz. Eram as opções da faceira mamãezinha. E eu pensando na formatura da guria no momento de ser anunciado o nome da formanda. “Bafana Beatriz, recebei esse anel como símbolo do grau que vos confiro”. Coitadinha!
Num primeiro momento pensei em se tratar de uma brincadeira da futura mamãe. E sugeri alguns nomes que foram, prontamente, rechaçados.
O primeiro foi Maria Sokratis Papastathopoulos que foi, peremptoriamente, recusado. Então, quem sabe, para homenagear a África e a Copa poderia ser Maria Mandela. Tentei argumentar sobre o mito Nelson Mandela... simplesmente balançou a cabeça negativamente. Maria Fabulosa ficou fora de cogitação. Ela só disse “África!”. E bateu com o dedo na cabeça como quem diz “entende?”. Maria Podolski? Não! Não gostava de alemães. Povo muito frio.
Como o rumo da prosa estava ficando sério, então, numa derradeira tentativa de sugerir algo mais decente, sugeri colocar o nome da bisneta de Mandela. A garota faleceu em um acidente automobilístico no dia da abertura da copa.
Maria Zenani! Para minha surpresa ela achou o nome lindo. Zenani era bem africano. Esse seria o nome da filha. E eu me despedi da conhecida com a sensação do dever cumprido. Maria Zenani Costa da Silva poderá formar-se tranquila. E ainda teria história para contar.

domingo, 20 de junho de 2010

Nós, os reacionários

O senhor Brasileiro, que em outra encarnação foi jogador de futebol, resolveu opinar sobre o grau de politização dos gaudérios. E pelo modo como enxerga o mundo e a filosofia, diria que o senhor Brasileiro é um pré-socrático.
Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian afirmou que Dunga é gaúcho e os brasileiros do sul são reacionários. Aí o senhor Brasileiro confundiu futebol e política. Coisa que, na maioria das vezes, os democratas misturam.
Um povo que se rebela contra o governo federal e faz a revolução Farroupilha que se estendeu por uma década, é reacionário? Pode ser. Se um bando de caudilhos marcham em direção ao centro do país e amarram seus cavalos no obelisco da capital para pôr fim a um tipo de politicagem é ser reacionário? Somos reacionários. Se liderarmos a cadeia da legalidade para preservar as instituições democráticas é ser reacionário? Somos reacionários.
Poderíamos elencar inúmeras ações dos gaúchos reacionários que elucidariam o grau do nosso “reacionarismo”. Mas o senhor Brasileiro colocou no estereotipo de Dunga toda a sua análise e, assim, todos os gaúchos viraram uma coisa só.
A grande questão é o futebol, essa discussão deveria ser travada no tipo de futebol que praticamos. E aí que o bicho pega. O senhor Brasileiro jogou em uma das melhores seleções do Brasil, a que praticava o futebol arte. Só que o senhor Brasileiro não conseguiu ser vitorioso com o futebol arte e com os seus passes de calcanhar. Em 1982 e 1986 o time canarinho foi estupendo. O talento do Brasil começava na beira do campo de jogo com o saudoso Telê Santana. Mas foi uma seleção derrotada. Encantou o mundo, mas não trouxe o troféu.
Em 1994 a seleção joga um futebol esquemático e técnico. E ressurge das cinzas o capitão Dunga, o reacionário.
Após mais uma derrota em 2006 com os galácticos, novamente, Dunga, o reacionário, volta à seleção em 2010 e implementa o futebol de equipe. Do coletivo. Sem os estrelismos e constelações. Seria demais para o senhor Brasileiro ver – mais uma vez – triunfar uma equipe liderada por Dunga, o reacionário. O senhor Brasileiro era inteligente quando jogava, tinha futebol na cabeça e nos pés. Suas entrevistas não tinham a mesmice do “com certeza”. Então, deve ser cruel ver um ex-jogador bruto e técnico “moldado a facão” ser vitorioso.
Mas nós, os reacionários, somos assim. Fazer o quê? Já fizemos das nossas na política e, certa feita, na década de 70, nos rebelamos contra o Brasil e desafiamos a seleção canarinho num jogo que acabou empatado em três gols. Tudo por causa da não convocação de um reacionário.
Bueno, esse pessoal do sul já fez um fórum mundial, que foi contraponto a fórum de Davos. Em outra oportunidade, elegeu um negro governador e na última eleição, esse povo machista, elegeu uma mulher para governá-lo.
Putz! Que povo reacionário esse, hein senhor brasileiro?

É coisa do Edson, mas eu acho que é da Cacism

Sou um frequentador assíduo da pista de caminhada do bairro Nonoai – aquele terreno que foi negociado pelo centro de eventos com a prefeitura –, pois bem, lá há duas entradas. Uma pela rua Tamandaí e outra pelo bairro Cidade Jardim, e ali as pessoas queimam as calorias e vão em busca de melhor condicionamento físico.
Num belo dia da semana passada chego pela entrada da Cidade Jardim e o portão está fechado. Pombas! Um transtorno.
Faço o contorno e entro pelo acesso da Tamadai, faço minha caminhada, meia dúzia de voltas e resolvo perguntar para uma senhora que estava em uma das casas, localizada no centro da pista, qual seria o motivo de o acesso estar fechado? Afinal, para quem vem do Big, rodoviária e da Duque de Caxias é um empecilho fazer uma volta para entrar no parque. A senhora que me atendeu falou que “era coisa do Edson”.
Esse é um típico exemplo de que quando a coisa funciona sempre tem alguém para inventar um entrave. Sempre tem um iluminado para inventar uma regrinha para atrapalhar o bom andamento da coisa.
Se a coisa é do Edson tudo bem, mas eu acho que é da Cacism. Enquanto não reabrem o acesso sigo caminhando pelas ruas, hoje fui até a gare e voltei... redescobri alguns monumentos da Av. Rio Branco.
Obrigado Edson. Ou seria Cacism?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

África do Sul x Eslovênia *

Na Copa de 2002, realizada na Coréia e Japão, os jogos eram noturnos e nós tínhamos a torcida coruja. Uma torcida que varava as noites para assistir os principais confrontos.
Em uma madruga Jurema tem um sobressalto.
– Acorda Teobaldo! Acorda!
– Hummm... hein... o que é mulher?
– Acorda Teobaldo! Acorda!
Com um forte cutucão no marido, Jurema desperta o sonolento e lento Teobaldo no meio da noite. O visor do rádio-relógio marcava 4 horas da manhã.
– O que é Jurema? Tu ta ficando louca... no bom do sono. Bem na hora que eu iria chutar um pênalti. Isso é sacanagem e da grossa. Bem na hora que eu ia fazer um gol no Mazurkievski.
– Tão tocando a campainha, vai ver quem é.
– Quem será o maluco... acordar as pessoas a essa hora da madrugada.
– Vai lá atender, Teobaldo. Pode ser uma emergência.
Teobaldo, meio dormindo, levanta-se, coloca as pantufas verdes com pigmentos amarelos e dirige-se à porta. Tateando interruptores e arrastando pantufas pela casa adentro. Imagina doença na família. Pensou em uma tia de Caxias que tava meio mal de vida. – Com o pé no estribo – como se diz na campanha.
– Era só o que faltava! – comenta baixinho para si. – Quem sabe algum vizinho distraído, cheio de álcool após uma noite de farra.
O som estridente retumbava em seus ouvidos.
– Calma já estou indo – responde diante da insistência da “visita” em apertar o botão da campainha.
– Sim? Boa noite, bom dia... sei lá.
– O senhor é o proprietário da residência?
– Não! Sou o amante de minha mulher. Que cê acha?
Teobaldo boceja longamente, escora a cabeça no marco da porta, quase dormindo. Ainda não vislumbrou a fisionomia do indivíduo a sua frente. Sente-se um traste humano semi-acordado. As faces cansadas e os ombros caídos são consequências de uma noite mal-dormida. Ainda lamentava o gol perdido contra o Mazurkievski.
– Eu sou o pesquisador do Ibope e gostaria de saber quantas pessoas estão assistindo o jogo da África do Sul contra a Eslovênia?
– Hãm??!!
O único barulho ouvido por Jurema foi o estrondo da porta, fechada violentamente. Em seguida os passos de Teobaldo, calmamente, em direção ao quarto.
– Tem gente que não tem o que fazer. Pesquisa do Ibope. Por que não vai fazer pesquisa na China? Ora! Me aparece cada um!
– Quem é esse tal de Mazurkievski?
– O goleiro do Uruguai.
– Teobaldo, acorda Teobaldo. O Uruguai não está jogando essa Copa. Dããnnn.
– Da Copa de 70, Jurema, eu estava batendo um pênalti na Copa de 70.
Virou para o lado e dormiu o sono dos justos.
– Goooooooooooooooooollllllll.
Jurema acorda sobressaltada.
– O desgraçado do juiz anulou.
– Dorme, Teobaldo! Dorme!

* 4º lugar no concurso literário de contos crônicas e poesias 2009 da FECI – Fundação de Educação e Cultura do Sport Club Internacional.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Arquimedes - A paródia de Joyce



O livro “Arquimedes” não pretende ser um plágio ou uma vã tentativa de se igualar a James Joyce. Longe disso. Os autores reunidos nesse romance coletivo têm em comum a admiração pela sua obra mais instigante “Ulisses” e pelas peripécias do personagem Leopold Bloom no longínquo 16 de junho de 1904. Logo, esse livro nada mais é do que uma simples idolatria ao escritor irlandês.
O Bloomsday é uma festa literária e faz algumas décadas que no dia 16 de junho os amantes da literatura e aficionados por James Joyce encontram-se nos bares e botecos da vida, nos mais diversos recantos do mundo, para recitar trechos de sua obra.
Santa Maria também realiza o Bloomsday com o apoio da Cesma (Cooperativa dos estudantes de Santa Maria) e do bar Ponto de Cinema. Esse encontro etílico-literário já está inserido no calendário cultural da cidade.
A Cesma foi fundada num dia 16 de junho. Assim sendo, a Cesma também consta nas efemérides do Bloomsday. Para os apaixonados por livros e apreciadores de literatura em Santa Maria é uma incrível e agradável coincidência, que nos estimula e responsabiliza culturalmente. E, com a presente edição, nos desafia.
E foi justamente num desses encontros, entre um copo e outro de uísque, que surgiu a ideia: por que não contarmos o dia 16 de junho de 1978 da Santa Maria da Boca do Monte? Em poucas semanas o projeto foi idealizado com o incentivo e apoio dos autores que prontamente aceitaram a inusitada incumbência. Assim, a partir do décimo quinto Bloomsday, começamos essa empreitada de contarmos as idas e vindas de Arquimedes Brum, justamente o dia que foi fundada a cooperativa dos estudantes. É claro, Arquimedes, um professor de física do Maneco, participou dessa assembleia de fundação.
Sempre tivemos em mente que devíamos homenagear Joyce e não copiá-lo. Então, num primeiro momento parecia um projeto arrojado, difícil e o resultado final ser uma miscelânea sem história. Mas com algumas visitas ao Arquivo Histórico e conversas com amigos que viveram intensamente aquele período, o livro tomou corpo e nos enche de enlevo e satisfação. “Arquimedes” pretende, apenas, ser uma modesta homenagem a Joyce e à literatura. E a todos aqueles que viveram ou desejam conhecer um pouco da cidade coração do Rio Grande.

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Santa Maria, 16 de junho de 2010

Demais autores do romance coletivo.

Antonio Candido de Azambuja Ribeiro
Tania Lopes
Raul Giovani Cezar Maxwell
Orlando Fonseca
Humberto Gabbi Zanatta
Aguinaldo Medici Severino
J.J.
Pedro Brum Santos

Lançamento dia 16 de junho de 2010 na Cesma às 17:30 h.