sexta-feira, 18 de abril de 2014

A dama e o valentão



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Santa Maria está violenta. Nas ruas, presenciamos a violência à luz do dia, a flor da pele e no sangue dos olhos. E o que impressiona são essas atitudes impensadas por motivos fúteis. Principalmente as relacionadas com o trânsito.
Dia 16 de abril, uma quarta-feira ensolarada que entardecia aparentemente calma, eu caminhava pela praça em frente ao Hospital de Caridade para atravessar a rua no sinal fechado. Ao cruzar pela faixa de segurança um motociclista para ao lado de um carro com uma mulher ao volante. Ouvi os mais variados xingamentos. Até que atinei que era o motociclista “conversando” com a mulher do carro. Vagabunda e vadia foram as mais suaves expressões. A mulher baixou o vidro e tentou argumentar com o motociclista, mas a verborragia aumentou em quantidade e diminuiu no nível. O rapaz – imagino que era um rapaz, pois ele estava, como manda a lei, de capacete – estava possesso. Então, a mulher fechou o vidro e arrancou com o carro e o homem, mesmo na moto, dá dois pontapés na lataria do carro aos gritos de vadia e vagabunda. E seguiu ao seu encalço. Mas cruza em alta velocidade pelo carro e some na presidente Vargas. Penso que o rapaz era uma pessoa muito valente. Um valentão. Deveria estar satisfeito com o show no sinal fechado.
Essas rusgas na via pública acontecem instantaneamente e são rápidas, em segundos tudo volta ao normal e não conseguimos sequer ter uma mínima reação. Não anotei nenhuma placa, não sei quem eram os protagonistas, apenas, posso dizer que o carro era branco. Quando coloquei a mão no celular o rebuliço estava terminado e a aparente calmaria da rua Pinheiro Machado voltara ao normal.
A moça do carro deve ter cometido alguma pequena infração de trânsito que motivou toda a ira do motoqueiro. Mas nada justifica tamanha agressão. É obvio que a gente tem vontade de xingar alguns malas e algumas malas que dirigem, mas temos que reprimir nossa raiva para o bem das pessoas, da vida e para o bem do nosso coração.
O mundo não vem abaixo por conta de uma pequena violação das leis de trânsito, mas poderá a vir se por um motivo fútil alguém perder a cabeça e resolver fazer justiça com as próprias mãos... ou pés.
Mas um dado é relevante, o Coração do Rio Grande não é mais o mesmo, e, hoje, somos saudosos daquela pacata Santa Maria dos ferrinhos.