domingo, 25 de janeiro de 2015

IPO da Caixa e a submissão da CUT



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

A presidente Dilma, contrariando o seus programas em horário eleitoral, comunicou que vai abrir o capital da Caixa – IPO. Uma baita novidade, o consolo é que vai demorar.
Essa afirmação caiu como uma bomba na categoria bancária, principalmente, nos bancários da Caixa. Afinal, nas próprias palavras da Dilma “O Aécio representa a privatização do FHC”. Lembram do “nem que a vaca tussa”?
Acredito que uma boa parcela dos votos recebidos foi por conta de que a privatização era programa do PSDB.  Teve eleitor que votou por exclusão, não via nenhum dos dois como candidato dos seus sonhos e votou no mesmo pior e a privatização foi uma delas que ajudou o voto em Dilma.
Qual seria a postura do PT se FHC e PSDB fizesse a IPO?
Dilma traiu os eleitores, o programa eleitoral e os votos recebidos.

A Caixa vem sendo, paulatinamente, preparada para a privatização. Começou com FHC com ajustes e rebaixamento salarial. Lula aprimorou com a mudança do plano de previdência e não recuperação das perdas. E Dilma encaminha a abertura de capital. O próximo presidente encerra o ciclo com o golpe de misericórdia com a definitiva privatização.
Mas alguém pode perguntar: a IPO é uma boa para a empresa? Não quero discutir se é bom ou ruim essa IPO da Caixa, ou que a abertura de capital não é privatização. Porque tenho comigo que é bom para uma empresa aumentar seus investimentos e é privatização. O problema é isso na Caixa! Nós temos que discutir qual Caixa que queremos. A CEF tem um histórico de banco social – começou com o penhor e pequenos poupadores –, mas nos períodos 2x (FHC + Lula + Dilma) o banco comercial recebeu um incremento em suas atividades. A Caixa virou um bradescão embora sendo, ainda, o principal órgão gestor das políticas sociais do governo. E é isso que queremos para a Caixa. Cada vez mais do povo e cada vez mais banco social. Uma abertura de capital vai fomentar ainda mais o banco comercial, pois os investidores – com razão – vão querer retorno em seus investimentos. Evidentemente, a IPO tornará a Caixa mais valorizada e o lucro será maior e o mercado financeiro agradecerá eternamente. Mais uma blue chips para compor o índice Bovespa. Já o lucro social, infelizmente, será um sonho de uma noite de verão. Então, diante disso tudo, a IPO é o penúltimo passo para a privatização da Caixa e adeus a trajetória de banco do povo.
E os sindicatos? E a categoria? E a CUT?
A abertura de capital da Caixa é uma realidade, mas parece-me que os sindicatos cutistas ainda não caíram na real. Por enquanto estão assistindo, complacentemente, a entrega do patrimônio público sem uma reação mais contundente. Lembramos que no ano passado – por conta da eleição – a greve durou exatos cinco dias. Afinal, não poderíamos atrapalhar a eleição da Dilma. O estado de inanição é completo. E esse silêncio todo me atordoa. Temos que organizar ações mais contundentes e visíveis. Os dirigentes dos sindicatos tem um papel fundamental de organização da categoria nesse sentido, pois o gigante é poderoso e é um caminho sem volta. Queremos atitudes para contrapor essa nova realidade e não cartinhas burocráticas de descontentamento e reuniões em salas acarpetadas. Aos dirigentes sindicais: ou liderem a luta ou entreguem seus cargos.
A IPO da Caixa é uma realidade é nós temos que sair da nossa zona de conforto como diria o F9. As cartas estão na mesa, vamos ver quem é quem nesse jogo. Quem blefou nós já sabemos, e nós só precisamos deixar de dar milhos aos pombos.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

"O PT muda ou acaba"



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Essa afirmação – estilo vai ou racha – de Marta Suplicy me deixou encafifado. Vem carregada de fatalismo, diria mais, com algum viés de ressentimento e vingança. Guardadas as mágoas e as quizilas – como diria o Olívio –, Marta tem um histórico e bagagem para tecer críticas ao Partido dos Trabalhadores. Uma dinossauro sabe o que aflige e o que importa. Conhece as engrenagens da política interna partidária e sabe onde aperta o calo. O interessante é a maneira, o momento, o estilo... a veemência: “O PT muda ou acaba”. É taxativo, avassalador.
Em todos esses anos o partido foi motivo de muitas desilusões. Os sonhadores que acreditaram que a política poderia ser feita com seriedade, também mudaram, porque diante de todos esses desmandos já não enxergam a política da mesma forma. O principal partido de massa do Brasil ascendeu ao poder com a bandeira da ética, da honestidade e de uma nova maneira de fazer política. Transformações sociais e um novo jeito de gerir a máquina pública sem a corrupção dos governos anteriores. Alguém aí lembrou do imposto sobre grandes fortunas? Esse era o PT.
Naquela eleição em que a esperança venceu o medo os brasileiros ansiavam por reformas. Àquelas de base que derrubou Jango. Quando a Marta Suplicy fala em “O PT muda ou acaba” causa um estranhamento, pois eu diria que o PT já mudou e faz algum tempo.
Os crimes de colarinho branco estão entranhados na política do Brasil. É um rombo de cinco séculos que tinha que ser exterminado. E esse foi o principal motivo da primeira eleição de Lula. Tirar as elites do poder e junto as carcomidas raposas velhas e felpudas. Além de não conseguir acabar com esses desmandos o PT moldou-se com extrema facilidade à corrupção. A bandeira da ética na política ficou esfarrapada nesses anos todos. Diante desse quadro – a palavra Petrobras não foi colocada no texto para evitar maiores transtornos – devemos concluir que o PT mudou e não acabará. A antítese da tese da Marta. O que o PT precisa é “desmudar” para ver se retoma o pouco do que sobrou do velho PT dos anos 80/90. O partido que foi o ideal de lutas e sonhos de uma geração pós-ditadura.
Mas na conjuntura atual eu sou cético. Muito cético, não acredito num retorno às origens, pelo contrário, o PT encaminha-se para uma completa peemedebização. O Partido dos Trabalhadores não mudou, se igualou aos demais. Infelizmente. “Nada do que foi será.”


ps
O texto faz uma análise macro do PT e da política.
É claro que tem gente série no partido e na política, certo?


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Uma festa para os jovens da Kiss


Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Numa situação dessas, de uma tragédia que vitimou 242 jovens, a expressão da dor e da saudade pode ser feita das mais variadas formas. Não devo julgar as crenças e as descrenças que envolvem um sentimento de perda. É, praticamente, impossível nos colocarmos – nós que não tivemos familiares na tragédia – na posição de um pai ou de uma mãe que teve a vida de seu filho, prematuramente, ceifada. Nesses dois anos sempre procurei entender e compreender todas as manifestações dos familiares, por um motivo muito simples: nunca tantos jovens morreram num espaço curto de tempo numa cidade do Brasil. Algo sem precedentes na história e rogamos para que jamais se repita.
Eu sou da opinião que nenhum excesso praticado por um pai deve ser condenado porque eu não sei do que seria capaz se tivesse no lugar de algum deles. Na verdade não houve excesso de manifestações e atitudes, acho que caminhamos para um excesso de impunidade e um excesso de esquecimento. A tragédia da boate Kis não pode ser transformada, apenas, em um toldo na praça com fotos dos jovens. Para superar essa dor precisamos de algo mais e esse algo mais se resume em uma única palavra: justiça.
Na adianta querermos escamotear e o poder público – as três esferas que constam na cidade, principalmente a municipal – fazer de conta que está tudo bem. Em Santa Maria não está tudo bem. Santa Maria não foi e não será mais a mesma depois daquele 27 de janeiro.
No próximo 27 de janeiro fará dois anos daquele fatídico amanhecer. O domingo mais triste. O dia em que o Brasil e o mundo choraram por Santa Maria. E nesses dois anos ninguém foi condenado. Ninguém perdeu seu cargo. Ninguém foi demitido. Ninguém foi responsabilizado. Quantos anos, ainda, aguardaremos pela justiça?
O próximo dia 27 será um dia de reflexão. Introspecção e recolhimento. No poema “Veterano” do saudoso Tocaio Ferreira tem um verso que diz: “Repasso o que tenho feito, para ver o que mereço”. É um momento de refletirmos sobre a vida, repassarmos o que temos feito e ver o que merecemos. Nós ficamos e temos o compromisso de manter a memória viva desses 242 jovens.   
Como escrevi no começo, procuro entender e compreender todas as manifestações. Mas tem um detalhe: uma festa numa boate no dia 27 para homenagear as vítimas, fica difícil de entender. Deve ser os inexplicáveis mistérios que existe entre o céu e terra.