sexta-feira, 29 de maio de 2015

"Never complain, never explain, never apologise"




 Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Eu não estou lembrado de ter usado um título em inglês numa crônica. Mas, convenhamos, um título na língua de Obama é muito mais chique.
Quando, no auge do mensalão, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou como se comportar diante de uma acusação, usando uma frase do ex-primeiro-ministro inglês Benjamin Disraeli "Never complain, never explain, never apologise" deu a dica para os demais acusados.
E assim se fez, todo e qualquer acusado negou e jurava de pés juntos sua inocência. Alguns, inclusive, foram guindados a categoria de heróis. A tradução literal é “nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe”.
O atual momento da política brasileira põe em disputa duas forças que se acusam e se rebaixam mutuamente: Petralhas x Coxinhas ou Trensalão x Mensalão ou Lava-jato x Zelotes. Escolha seu clássico e torça porque o jogo é padrão Fifa, literalmente. E, pelo visto, essa briga vai longe. Diga-se, uma briga de bugios que nada acrescenta para o país e, ainda, coloca mais descrédito na desacreditada classe política.
Algumas lideranças que formaram uma legião de admiradores saem muito chamuscadas desse processo todo. Não são mais os mesmos porque todos mudaram ou mostraram o que realmente eram. O que falta para essas lideranças é um mínimo de autocrítica.  A frase “nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe” se justifica para alienados e seguidores fiéis. Cegos diante das falcatruas. Doutrinados e incapazes de elaborar uma crítica. Mas não diz nada para quem tem um mínimo de raciocínio e discernimento político. Somente vale para alvorotar puxa-saco. O verdadeiro líder é o que consegue reconhecer suas fraquezas, erros e compartilha responsabilidades. Cortar na carne? Só no discurso para inglês ver.
Mas no Brasil continuamos ouvindo “nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe”. Mas volta e meia o juiz Moro bota alguém na cadeia.
O desencanto vem de longa data e atinge as mais diversas personalidades e lá se vão mais de uma década. A política regrediu e com ela os nossos sonhos. Os sonhos que sonhávamos juntos não são mais sonhados. Não temos no horizonte uma utopia para seguir.
O máximo do desencanto se deu quando uma ilustre filósofa da USP resolveu odiar a classe média. E odiou várias e várias vezes para uma mesma plateia. E o mais intrigante é que um ex-presidente sorria ao lado da filósofa. Uma decepção seguida de outra. Mas segue o Brasil construindo sua democracia mesmo que alguns debiloides desejam a volta da ditadura.
Se um dia eu for acusado também vou usar o recurso do ex-ministro inglês. Mas vou usar em francês, porque se é chique na língua de Obama é chiquérrimo na língua de Carla Bruni.
“Ne jamais se plaindre, ne jamais expliquer, ne jamais excuses”.


domingo, 24 de maio de 2015

O ódio real



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Um debate presencial para discutir o ódio virtual termina antes de começar, justamente, por conta do ódio virtual que se fez presente. Não é uma ironia? Não. É ódio em estado puro. Intransigência que se alastra como epidemia. É a educação derrotada pela intolerância. A bem da verdade, isso não é privilegio de classe. Quando vejo um douto afirmando barbaridades na internet eu lembro do velho que dizia “Diploma não encurta orelhas”.
A internet veio para facilitar a vida da gente, mas tem gente que gosta de complicar o que parece fácil porque é fácil permanecer no anonimato. Ou escondido diante de um teclado. Quando o tema é política aí nos repontamos a era mesozoica e nos comportamos como tiranossauros rex grunhido raivosas expressões. Os adjetivos são por demais conhecidos.
Eu costumo dizer que conto os 150 botões da minha bombacha antes de responder uma provocação ou tecer um comentário. Mas têm dias que não dá vontade de contar porcaria nenhuma e chutar o balde ou o pau da... pau de selfie (para ficar na moda).
Uma vez – nos áureos tempos de sindicalismo combativo – um colega comentou que as avaliações de um encontro, seminário, reunião ou campanha não devem ser feitas no calor dos debates e nem muito dias após o término, para não sermos acometidos pela emoção irracional ou pela complacência do tempo. Sempre penso assim antes de postar, comentar ou enviar uma resposta. No dia seguinte a resposta fica mais comedida. Mas o importante num debate virtual – e que muitas vezes fica em desuso – é a educação. Acreditem, é possível discordar com educação.
Mas se for impossível a convivência virtual a solução é bem simples: bloquear e desfazer a amizade. É uma solução sem traumas e definitiva. Porque, para mim, as redes sociais são como uma rede na varanda. É para relaxar.