sábado, 19 de novembro de 2016

Debandada II



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

2016 foi o ano em que o PT sofreu a maior derrota em um pleito. O ápice negativo de uma trajetória politicamente tumultuada nos últimos tempos.
Tragicamente inesquecível como o 7 a 1 da seleção em 2014. Mas a política não é como no futebol que basta trocar o treinador. Envolve uma complexidade de argumentos e contra-argumentos. E não vai ser fácil assimilar e compreender essa acachapante derrota.
Especificamente, aqui no Rio Grande do Sul, algumas celebridades têm reputação e autoridade para propor mudanças e fazer autocrítica. Olívio, já faz algum tempo, identificou as más companhias e sugeriu uma atitude mais severa do partindo e menos condescendência com os dirigentes inescrupulosos. Tarso defende a tese da refundação e já faz um bom tempo também. Mas o PT está estático. Em repouso. Parece que o PT não está muito disposto a discutir... então...
A revista ISTOÉ identificou uma debandada do PT com uma reportagem de capa. Enumerou alguns deputados nessa articulação. E se o partido não tomar as rédeas desse processo e chamar para si o debate é o que vai acontecer. O partido precisa se reinventar profundamente.
O PT envelheceu e foi incapaz de se renovar. Acomodou-se nas instâncias da burocracia e deixou a lo largo o debate, as discussões que eram as marcas do partido nos anos 80/90.
Não forjou novas lideranças e ficou refém do carisma de Lula. Os sindicalistas foram cooptados e os intelectuais silenciaram. O debate sucumbiu com a necessária e pragmática governabilidade.
E agora, diante dos escombros, o partido se vê numa encruzilhada e com isso estende esse trauma a toda esquerda. Diante do arrefecimento da esquerda a direita sai às ruas. Uma esquerda arrefecida sai das urnas em 2016 e uma direita afoita entra em 2017.
O PT precisa renascer e é provável que renasça, mas nada será como antes. É impossível reviver aqueles momentos de rebeldia. O PT sobreviverá, mas não nos mesmos parâmetros pelos quais foi concebido. Compactuo com a ideia de refundação, mas acho que não prosperará. A estrutura atual do partido é de difícil ruptura. E uma vanguarda já na faz tanto sucesso como fazia em outros tempos.
Não sei se a palavra debandada é a mais adequada para os próximos momentos do PT, mas, no entanto, é fato que a sigla sofrerá alguns reveses em suas fileiras. E, convenhamos, é bom que assim seja. Talvez seja bom para a própria esquerda e ela se reconstrua com novas forças para enfrentar os novos cenários e desafios políticos.
Pode ser que a esquerda se reúna em uma Frente Ampla – a melhor hipótese – e se reorganize em torno de propostas de cunho social dentro de uma ideia popular de governo.
É uma saída factível para esquerda e que contempla também o PT tenha ele o tamanho que tiver.


Encerro aqui essas modestas e pretensas reflexões de novembro.
Aos amigos que me acompanharam até aqui, deixo o meu sincero agradecimento, espero ter contribuído de alguma forma para compor uma opinião sobre esse momento atual.
Volto para os meus contos e crônicas.

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