quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

27 de janeiro



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Eu não sei quantos 27 de janeiros ainda teremos por clamar por justiça. Nós – o povo e adjacências – temos uma certa implicância com a morosidade do judiciário. As causas se prolooooooongam... mas temos que acreditar porque ela não falha. 
Uma certeza é evidente: teremos uma eternidade de 27 de janeiros para celebrar a vida.  Nesses quatro anos da tragédia Santa Maria já chorou todas as lágrimas possíveis e ainda chorará por anos a fio as lágrimas remanescentes porque a saudade é uma companheira que tem a capacidade de ser uma companhia cruel e, ao mesmo tempo, doce em suas lembranças.
Um dado que jamais esqueci e que revela muito o tamanho da tragédia estava numa reportagem há quatro anos. Computando a expectativa de vida dos jovens que estavam na boate, naquele 27 de janeiro, foram ceifados 10 mil anos. É de difícil compreensão. É incomensurável.
No âmbito da tecnologia estamos vivendo uma revolução. A informática veio para quebrar todos os paradigmas. Não somos mais os mesmos e não é por nos banharmos duas vezes no mesmo rio. Mas na vida real vivemos a Era da barbárie ou quase isso. A vida está valendo pouco nos violentos centros urbanos e menos ainda nos diversos “Alcaçus” esparramados pelo país. Existe pessoas que comemoram a morte e outros comemoram a doença simplesmente por uma divergência ideológica. E a gente fica sem saber o que dizer. Estamos perdendo a capacidade de evoluir para sermos cada vez mais humanos. Podemos dizer que a teoria da evolução atingiu sua máxima histórica. O gráfico está num estágio descendente. Precisamos, urgentemente, de adquirir cotas de humanidade. Cotas de solidariedade para gostar mais das coisas simples que a vida nos proporciona. Se arriscar numa poesia, num óleo sobre tela, num clique em preto e branco ou num chamamé em um fandango sem medo do mico.
Quando lemos que a fortuna de oito pessoas é igual a fortuna dos outros 3.600.000.000 de humanos mais pobres, concluímos que tem alguma coisa errada nesse planeta chamando Terra.
Continuamos orando pelas jovens vítimas da Boate Kiss, pois queremos que os familiares e amigos, que  aqui ficaram, sigam suas trajetórias com paz e serenidade para enfrentar a saudade e a ausência. Mas também desejamos um mundo mais humano e solidário. Talvez num mundo mais humano a gente não precise clamar tanto por justiça.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O legado da copa

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Eu não sei quais são os critérios para quantificar com quantos estádios se faz uma copa do mundo.
Mas a sensação que tenho que a copa de 2014 com doze estádios foi demais. O legado era um grande apelo para angariar apoios. Muito se discutiu sobre esse legado e muito ainda será debatido.
Sabemos, e é público e notório, que a gastança foi desmedida. Principalmente no que tange às arenas. A mim, salta aos olhos dois mastodontes construídos em locais de pouca tradição futebolística. Um descalabro. Mas a política não mede esforços nos agrados. Então, temos uma arena na Amazônia e outra no Pantanal. E ficamos nos perguntando: e depois?
Eu apostaria em várias arenas para ver qual delas estaria às moscas após a copa. Mas o Maracanã seria a minha última aposta. Como explicarmos que o maior palco do futebol brasileiro está jogado às traças. O Maracanã está abandonado. O templo do futebol, palco de memoráveis decisões e final de duas copas do mundo está com as portas fechadas. Eu gostaria de saber onde estão os políticos que, num canetaço, liberaram verbas a rodo para construir e reformar arenas e estádios. O Maracanã custou 1,2 bilhões. Esses mesmos gestores públicos deveriam vistoriar suas obras e ver o estado desse propalado legado da copa.
Uma nação que constrói estádios ao invés de hospitais – não se faz uma copa construindo hospitais – e pretende construir presídios ao invés de escolas está fadado ao subdesenvolvimento. IDH é coisa de gente que não tem o que fazer.
Eram poucos os indignados com a farra das arenas e, ao que tudo indica, serão poucos os indignados com as obras de mais presídios.
A nossa indignação tem que ser contra o sistema. Contra a malversação do dinheiro público, seja o agente daqui ou de lá. A indignação seletiva, apenas acirra os ânimos e não resolve e agrava os problemas.
Se com a mesma facilidade que foram construídos alguns elefantes – brancos, pardos e marrons – para abrigar meia dúzia de jogos, construíssemos hospitais e escolas, em uma geração teríamos um outro país. Mas é aí que reside o problema: um outro país. Um povo mais consciente não é o desejo da classe política. Alguns interesses seriam feridos.
Mas vamos em frente sabe se lá se não achamos um destino social para as arenas do Pantanal, da Amazônia e para o Maracanã. Logicamente, com mais investimentos públicos.
Ah! Quem sabe um enorme presídio na Amazônia. A Globo já deu a dica, recentemente, com uma minissérie.